domingo, 13 de março de 2011

“A economia do romantismo”












Pergunto-me se o amor também estará em crise.
Se os beijos vão caindo a pique na bolsa.
Se há cada vez mais mãos dadas no desemprego e se o preço dos olhares amantes também vai ser afectado.
Parece que o número de solteiros já está a desequilibrar a balança comercial e que a dívida pública gerada pelos divórcios é intransponível.
Contudo, li em qualquer lado de referencia que, segundo os especialistas, a grande preocupação é a questão do romantismo.
Parece que o gap entre os românticos e os não românticos vai triplicar nos próximos anos e que o romantismo médio per capita está cada vez mais deteriorado. Sem falar nos empréstimos de romantismo a crédito aos filmes lamechas.
De acordo com a mesma fonte, o PIB das cartas de amor é inferior à media da União Europeia e o Banco Central Europeu está a estudar a hipótese de um empréstimo mas como não têm papel perfumado é complicado.
As pessoas acabam por buscar soluções mais económicas como conhecer-se e namorar pelo facebook o que, consequentemente, tem um impacto bastante negativo na indústria do calçado, das floristas e dos chocolates.
Mas mesmo perante um cenário tão catalítico como este se afigura, eu sou uma optimista.
Afinal, ainda há pessoas que escrevem cartas de amor, só que a maioria as envia por mail e assim não demoram 3 semanas a chegar ao destinatário.
Também tem de haver pessoas a oferecer flores, caso contrário, os indianos das rosas ambulantes não proliferariam como bem se vê.
E há crianças de 6 anos que já querem dar beijinhos e há mãos dadas de velhinhos.
Os chocolates ainda estão na sua temporada alta!
E, convenhamos, isso das serenatas ia incomodar os vizinhos e depois haveriam reclamações na reunião do condomínio.
Que já não haja paladinos do romantismo como o Bocage é pena.
Mas também é verdade que aquilo era uma leviandade de angustias e dores, ninguém sabe ao certo quantas vezes é que ele morreu de amores.
Eu acho que o que mudou foi a taxa de câmbio do romantismo e as pessoas ainda não assimilaram os novos valores.
Um pouco como não saber quanto são 50.000? em escudos.
Porque é romântico comprar voos da Ryan Air para fazer surpresas à pessoa amada.
É romântico dedicar vídeos no youtube.
É romântico ficar a noite toda a conversar na janelinha minúscula do facebook.
É romântico mandar beijinhos à câmara Web enquanto se fala pelo skype.
É romântico pôr fotos e declarações nas redes sociais e nos blogs.
É romântico deixar os filhos com os avós para ir ao cinema ou ir passear no fim-de-semana.
É romântico ir ao supermercado comprar objectos de higiene pessoal da pessoa amada e saber os ingredientes exóticos do shampoo que ela usa.
É romântico oferecer uma bimby!
E, mais raro mas extremamente romântico, é ceder o lugar num transporte público.
De modo que se o amor estiver mesmo em crise, eu sou apologista de uma possível recuperação.
Porque o romantismo está em alta, parecendo que não.


Alexandra Schüt

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